O Programa Tim Lopes (PTL), criado em 2017, é uma resposta da Abraji à violência contra jornalistas no Brasil. Comunicadores, em especial do interior do país, têm sido alvos constantes de agressões e ameaças por parte de organizações criminosas e agentes políticos locais. É nesse contexto que assegurar a proteção de jornalistas tem sido uma das prioridades do Programa, que também acompanha o rumo das investigações de profissionais assassinados para que não entrem nas estatísticas da impunidade.
A violência contra jornalistas tem ocorrido de forma sistemática no Brasil. Dados levantados pelo monitoramento de ataques contra jornalistas da Abraji revelam que o ano de 2022 foi marcado por uma escala de agressões a profissionais de imprensa e meios de comunicação em geral, com 571 casos registrados – 23% a mais do que em 2021. O levantamento parcial referente a 2023 também revela um cenário crítico em que as agressões físicas, casos de destruição de equipamento e ameaças graves à vida e à integridade dos jornalistas se destacaram, com 109 alertas.
Os números refletem uma parcela da realidade. A subnotificação de casos é um dos maiores desafios enfrentados hoje no processo de monitoramento de violações à imprensa, especialmente em municípios quase ou totalmente desassistidos de cobertura jornalística. O descaso do Poder Público e a ausência de políticas públicas efetivas que garantam a proteção de jornalistas e comunicadores também são fatores que contribuíram para que o país chegasse ao cenário atual. O Programa Tim Lopes atua para que o silenciamento não seja regra nas capitais, periferias, áreas rurais, tradicionais ou no interior do país.
Há cinco casos de comunicadores assassinados em decorrência do exercício profissional que estão sendo acompanhados pela equipe do PTL. São eles: Jefferson Pureza (2018); Jairo de Souza (2018); Léo Veras (2020); Givanildo Oliveira (2022); e Dom Phillips (2022).
Destaques
Assassinatos de Bruno Pereira e Dom Philips seguem sem respostas“O prefeito não gosta de índio”Clãs de assassinos confessos de Dom e Bruno recebem seguro defeso há dez anosPF mudou três vezes delegados responsáveis pela investigação das mortes de Bruno e DomOrganizações de defesa da imprensa cobram respostas sobre morte de Dom e Bruno e segurança na AmazôniaJornalismo na Fronteira
A equipe do programa também produziu o documentário Jornalismo na fronteira, em que mostrou os riscos do trabalho de profissionais que atuam na fronteira do Brasil com o Paraguai. A entrevista com o jornalista paraguaio Cándido Figueredo mostrou a rotina de um profissional que vive há 25 anos com escolta armada, após sofrer ameaças e ataques em sua própria casa, em Pedro Juan Caballero.
A reportagem foi produzida pelos jornalistas Angelina Nunes e Sérgio Ramalho. A edição do documentário é de Bruna Lima.
Lives do Programa Tim Lopes
O Programa também conta com uma série de lives disponíveis nas redes sociais da Abraji. Nos últimos anos, a coordenadora do PTL entrevistou uma série de jornalistas de vários estados do Brasil que enfrentam situações de ameaça e/ou que cobrem temas sensíveis.
Os assuntos das lives foram variados, se desdobrando em discussões sobre jornalismo investigativo, segurança pública, direitos humanos, crime organizado, cobertura de trabalho análago à escravidão, desafios de produzir reportagens na região Amazônica e no Nordeste, entre outros.
Foram entrevistados, em ordem cronológica, os jornalistas Marcelo Beraba, Vera Araújo, Alexandre Lyrio, Fábio Teixeira, Alexandre Hisayasu e Lucas Barbosa, Edmar Barros, Vito Gemaque e Rafael Mesquita, Leticia Kleim e Jairo de Sousa Júnior. Todos os programas estão disponíveis na playlist do Youtube da Abraji.
Em 2023, a coordenadora do Programa também entrevistou o diretor do documentário “Onde está Tim Lopes”, Bruno Quintella. O jornalista, que também é filho de Tim, narrou em uma série documental original Globoplay a trajetória profissional de Tim Lopes. Para acessar o bate-papo, clique aqui.
Jornalismo sem trégua
Em 2020, foi lançado o podcast Jornalismo Sem Trégua, que realiza um mergulho no local onde ocorreram os crimes investigados no programa e traz nuances sobre esses homicídios. O recado é claro: matar o mensageiro, no caso o jornalista, não impede que seu trabalho continue sendo feito.
Em sua primeira temporada, o podcast tratou da execução do jornalista Tim Lopes, em 2 de junho de 2002, na Favela da Grota, no Rio de Janeiro. O jornalista, na época com 51 anos, foi torturado e executado por traficantes. Ele foi surpreendido enquanto realizava uma reportagem no Complexo do Alemão. Os episódios relatam as investigações policiais, a caçada de 109 dias ao mandante do assassinato, o traficante Elias Maluco, e o julgamento dos acusados. Nessa temporada foram abordadas as mudanças na cobertura policial, como o uso de equipamento de segurança pelos jornalistas. A morte de Tim Lopes inspirou a criação da Abraji.
Na segunda temporada, foi abordado o caso do radialista Jefferson Pureza, de 39 anos, morto em 17.jan.2018, na varanda de sua casa, em Edealina, no interior de Goiás. O crime teria custado R$ 5 mil e um revólver 38. Os episódios revelam detalhes das investigações e o polêmico julgamento que absolveu o vereador acusado de ser o mandante do crime.
Na terceira temporada, o podcast falou do assassinato do radialista Jairo de Souza, assassinado no dia 21.jun.2018, em Bragança, no Pará. Segundo as investigações policiais, o crime foi encomendado a um grupo de extermínio com dez integrantes e teria custado R$ 30 mil. Um vereador foi acusado de ser o mandante do crime, e o caso ainda não foi a julgamento. Os episódios de todas as temporadas estão disponíveis no Spotify e em todos os aplicativos que reproduzem podcasts, incluindo o perfil da Abraji no Youtube.
No ano de 2022, foi produzido também o quadro Conteúdo sem fronteiras, em que temos conversas que vão além das redações: os riscos, a segurança, o assédio, a comunicação na periferia, no interior e nas novas plataformas. As entrevistas foram realizadas por Angelina Nunes e a produção foi de Heloisa Fortes.