A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), por meio do Programa Tim Lopes, foi uma das 16 organizações que integram a investigação internacional colaborativa chamada Projeto Bruno e Dom. Criado e coordenado pelo consórcio Forbidden Stories, o projeto contou com mais de 50 jornalistas de dez países que tinham como objetivo dar continuidade ao trabalho do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados em 5.jun.2022, na terra indígena Vale do Javari, no Amazonas.

A Abraji acompanhou de perto as consequências geradas a partir das mortes de Bruno e Dom. Desde as primeiras informações sobre o desaparecimento, na manhã de domingo, 5.jun.2022, à angústia dos líderes dos povos originários nas buscas pelos rios Itacoaí e Javari, culminando na descoberta dos corpos e nas prisões dos suspeitos.

No período de um ano, a equipe do Programa Tim Lopes esteve três vezes na região amazônica com o repórter Sérgio Ramalho e os fotógrafos Marcos Tristão e Pedro Prado, que passaram por Benjamin Constant, Santa Rosa (Peru), Letícia (Colômbia), Tabatinga, Manaus e Parintins. Ao total, foram 9.666 quilômetros percorridos para contar em uma série de reportagens o que aconteceu após a confirmação dos assassinatos. Trabalhando em São Paulo e no Rio de Janeiro, estavam o jornalista Caê Vatiero e a coordenadora do Programa Tim Lopes Angelina Nunes, respectivamente.

Além da Abraji, participaram do projeto a Amazônia Real (Brasil), Der Standard (Áustria), Expresso (Portugal), Folha de S.Paulo (Brasil), Le Monde (França), NRC (Holanda), Ojo Público (Peru), Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) (Estados Unidos), Paper Trail Media (Alemanha), Repórter Brasil (Brasil), Tamedia (Suiça), The Bureau of Investigative Journalism (Reino Unido), The Guardian (Reino Unido) e TV Globo (Brasil).

Confira aqui as reportagens dos parceiros.

Reportagens do Programa Tim Lopes

Silvana Marubo carregava, na tarde de quinta-feira, 22.jun.2022, um cartaz onde se lia “Amazônia Resiste! Quem Mandou?“. Ela estava liderando mulheres indígenas em um protesto à frente da sede da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Atalaia do Norte (AM). A pergunta era uma referência aos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips, executados havia 17 dias.

A pergunta de Silvana segue sem resposta.

O Programa Tim Lopes acompanhou e segue acompanhando os desdobramentos das investigações relacionadas às mortes de Dom e Bruno. Para que a impunidade não seja a regra, a equipe do programa passou um ano em processo de apuração para contar três histórias:

O município de Atalaia do Norte, onde está localizada a maior parte da Terra Indígena Vale do Javari, tem como vice-prefeito Giuliano Pinto Galate (PP), filho de Rosário Galate, madeireiro e ex-prefeito que tinha como bordão: “Índio bom é índio morto”. A frase ecoou pelo município; e muitos indígenas evitavam passar à frente da casa do político. É o caso de Bushe Matis, atual coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

Além de um herdeiro na política local, Galate deixou como legado uma pilha de processos onde figura como réu por improbidade administrativa e desvio de dinheiro público. Para realizar esse levantamento, a equipe contou com a parceria do Jusbrasil, serviço de tecnologia que simplifica a coleta, organização e disponibilização de informações jurídicas oficiais, abertas e públicas no Brasil.

Presos dias depois de executar o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, na manhã de domingo, 5.jun.2023, às margens do rio Itacoaí, em Atalaia do Norte, os assassinos confessos Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, e Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha, receberam respectivamente R$ 7.184 e R$ 10.932 de seguro defeso. Um levantamento do Programa Tim Lopes revela que parentes dos dois acusados recebem o pagamento destinado a pescadores artesanais há dez anos.

Embora os citados acima tenham recebido pagamentos do programa, totalizando a quantia de R$ 144.508 de 2013 a 2023, o inquérito da Polícia Federal indica a participação do grupo em uma organização criminosa voltada à invasão da TI Vale do Javari para a pesca predatória, especialmente, do pirarucu. Amarildo Pelado figura como o chefe do núcleo com base na vila ribeirinha de São Gabriel, às margens do rio Itacoaí, onde vive a maior parte de sua família.

Em um ano de investigações, a Polícia Federal não apresentou uma conclusão sobre quem teria mandado executar Bruno e Dom, tampouco avançou sobre as suspeitas de ligação da família do assassino confesso Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, na prefeitura de Atalaia do Norte.

As falhas na condução do inquérito, atualmente sob a responsabilidade de um delegado lotado em Brasília, e do processo na Justiça Federal em Tabatinga (AM) levaram os desembargadores da 4ª Turma do TRF-1, em Manaus, a anular o processo. A decisão por unanimidade foi anunciada em 16.mai.2023, menos de um mês de os assassinatos completarem um ano.

O legado de Bruno e Dom

O Programa Tim Lopes lançou o minidocumentário “O legado de Bruno e Dom” na data que marcou um ano das execuções do indigenista e do jornalista assassinados na terra indígena Vale do Javari, no Amazonas, em 05.jun.2022. As entrevistas foram realizadas pelo jornalista Sérgio Ramalho e as imagens são de Marcos Tristão. O roteiro e a edição foram feitos por Angelina Nunes e Caê Vatiero. A edição de vídeo é de Sarah Faustini.

O minidoc foi lançado durante a coletiva de imprensa “um ano do assassinato de Dom e Bruno – qual a resposta do Estado brasileiro?” realizada no Instituto Vladimir Herzog, em São Paulo. Na ocasião, a Abraji e mais oito organizações ligadas à defesa da liberdade de imprensa divulgaram uma nota conjunta para cobrar respostas das autoridades públicas sobre a morte de Dom Phillips e Bruno Pereira.

Galeria

Créditos: Marcos Tristão