INVESTIGAÇÕES

Sob a coordenação de Angelina Nunes, a equipe do Programa Tim Lopes investiga a morte de cinco jornalistas assassinados no exercício da profissão. Dois assassinatos de radialistas foram incluídos em 2018. Em 2020, aconteceu mais um. Dois anos depois, em fevereiro de 2022, o jornalista Givanildo Oliveira foi morto após publicar uma denúncia. Ainda no mesmo ano, os assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira tornou-se o quinto caso do programa.

Todos estes vêm sendo investigados pela Abraji.

As reportagens produzidas têm sido publicadas pela rede de veículos parceiros para jogar luz sobre os casos e não deixá-los impunes.

Caso Jefferson Pureza, em Edealina

O radialista Jefferson Pureza, de 39 anos, foi morto na noite de 17 de janeiro de 2018, com três tiros no rosto, quando descansava na varanda de sua casa. O crime ocorreu em Edealina, interior de Goiás. Segundo os depoimentos que constam do inquérito, o crime foi negociado por R$5 mil e um revólver 38. Os seis acusados de envolvimento no crime continuam presos.

Os três adolescentes envolvidos na morte do radialista cumpriram medidas sócioeducativas e ficaram acautelados menos de um ano. Um foi o atirador, outro dirigiu a moto e o terceiro repassou o “serviço” que determinava a morte do radialista. Leandro Cintra da Silva, dono do lava-jato onde foi feita a negociação para o crime,  foi julgado em 15 de outubro de 2019  e condenado a 14 anos de reclusão.

Em um polêmico veredicto, o júri popular absolveu do homicídio do radialista o vereador José Eduardo, acusado de ser o mandante,  e o seu caseiro Marcelo Rodrigues dos Santos, que apresentou os adolescentes ao vereador.

Quem mandou matar Jefferson Pureza?

Caso Jairo de Souza, em Bragança

O radialista Jairo de Souza foi morto ao subir a escadaria que dá acesso a Rádio Pérola FM, no dia 21 de junho de 2018, por volta das 4h50m. O crime ocorreu em Bragança, no Pará, quando Jairo chegava ao trabalho para apresentar seu programa matinal “Show da Pérola” que ia ao ar das 5h às 9h. Ele foi baleado com dois tiros depois de passar por um portão e subir alguns degraus da escadaria. Segundo investigação policial, o crime foi encomendado a um grupo de extermínio e teria custado R$30 mil.

Onze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público, entre elas o vereador Cesar Monteiro Gonçalves, acusados de ser o mandante do crime. Poucos meses depois o vereador conseguiu um habeas corpus e responde pelo processo em liberdade.

No dia 17 de setembro de 2020, Madson Aviz de Melo,  suspeito de envolvimento no assassinato do radialista Jairo de Sousa, foi preso em Boa Vista, Roraima.  “Macio”, como é chamado, foi encaminhado para a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR) e espera transferência para o Pará, onde responderá pelos processos. 

Quem mandou matar Jairo de Sousa?

Caso Léo Veras, em Pedro Juan Caballero

O jornalista Lourenço (Léo) Veras, de 52 anos, foi morto na noite de 12 de fevereiro de 2020, com 12 tiros, quando estava na sala de casa com a família. O crime ocorreu no município paraguaio de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com a cidade sul-mato-grossense de Ponta Porã. Veras noticiava a disputa do narcotráfico na fronteira entre Brasil e Paraguai, e já havia recebido ameaças de morte.

O crime ainda é investigado pelo Ministério Público e pela polícia paraguaia. Sabe-se que a pistola que matou o jornalista foi usada em sete execuções relacionadas à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Policiais envolvidos na investigação apontam como um dos motivos para o crime a identificação do principal chefe do PCC na fronteira, conhecido como Salinas Ryguaçu.

Circula a informação de que teria sido Veras o responsável por alertar as autoridades sobre a identidade do narcotraficante, o que teria levado Salinas a dar a ordem de execução do jornalista.

Quem mandou matar Léo Veras?

Caso Givanildo Oliveira, em Fortaleza

O jornalista Givanildo Oliveira, de 46 anos, foi assassinado na noite de 7 de fevereiro de 2022, horas depois de publicar uma reportagem sobre a prisão de um suspeito de homicídio. Oliveira era um dos fundadores do site Pirambu News, que cobria notícias sobre o bairro de Fortaleza. As primeiras informações apontam que ele havia sido ameaçado para que não publicasse informações sobre criminosos da região.

A última reportagem de Oliveira foi sobre a prisão de Francisco Airton Vieira Araújo, de 24 anos, suspeito de duplo homicídio ocorrido em 6 de fevereiro de 2022.  A delegada Patrícia Lopes Aragão confirmou à Abraji esta ter sido a motivação do crime.

Quarenta e nove dias após o assassinato de Givanildo Oliveira, o Ministério Público do Ceará (MPCE) apresentou denúncia e pediu a prisão preventiva de quatro homens suspeitos do crime. Segundo testemunhas que foram ouvidas durante as investigações, eles foram apontados como membros da facção criminosa Comando Vermelho (CV), que atua em Fortaleza.

Quem mandou matar Givanildo Oliveira?

Caso Dom Phillips e Bruno Pereira, em Atalaia do Norte

Dom Phillips, de 57 anos, acompanhava o indigenista Bruno Pereira, de 41 anos, em uma expedição pelo Vale do Javari, pois estava escrevendo um livro sobre como salvar a Amazônia, em que fazia referência a violações de direitos humanos na região.

Embora essa não fosse uma atribuição do indigenista, Bruno tinha o hábito de fazer investigações paralelas desde que começou a trabalhar na coordenação da Fundação Nacional do Índio (Funai) na região.

Na atual investigação, também iniciada a partir de denúncias de indígenas, Bruno Pereira teria identificado o envolvimento de um secretário municipal e de ao menos três servidores nomeados pelo prefeito na invasão da TI para pesca e caça predatórias. Um deles é parente de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, preso por suspeita de ter participado dos assassinatos do indigenista e do jornalista Dom Phillips.

Para uma fonte anônima ouvida pela Abraji, não há dúvida de que o assassinato do indigenista está relacionado à atuação rígida do ex-coordenador da Funai no enfrentamento às atividades predatórias do grupo criminoso. O ativista conta que Bruno Pereira vinha fornecendo informações ao jornalista Dom Phillips sobre as relações suspeitas envolvendo pescadores ilegais com o narcotráfico e políticos da região. Dom estava escrevendo um livro sobre a TI do Vale Javari.

Quem mandou matar Dom e Bruno?